quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

2015 assume o lema “mais do mesmo” (como previsto)

A pecuária Goiana e Brasileira descrita por quem a vive e “carrega o pó da viagem”  (Edição #147, de 11 a 17/JAN/15)
1)      COMO ESTÁ O NOSSO TETO (SP/MS)?
Deixamos o último relatório postado aqui, pouco antes do Natal, com o indicador Esalq/BMF em R$ 142,55/@ (variando de R$ 141 a R$ 145), base av. Após finalizarmos o ano com R$ 143,75/@, voltamos nesta última sexta para R$ 143,31/@ av (variando de R$ 141,25 a R$ 145,50).
Continuando nossa recapitulação, o último texto de 2014 foi postado quando havia 3 semanas de baixa da @ no mercado, sequência ruim que foi quebrada pois as semanas do Natal e do Ano Novo foram de alta (leve). Esta semana passada, a inicial do ano, semana a qual se refere este texto, foi de baixa.
Em suma, o mercado flertou com a estabilidade, tendo ocorrido pouca coisa relevante em termos de preços, apenas alguns ajustes pontuais para cima, conforme havia sido aventado aqui no último informe: “nenhum movimento brusco é esperado. Aliás, é até possível tem um precinho para cima, em função de alguma indústria precisar tampar brechas”.
O mercado físico do final da semana marcava R$ 142 a 143/@ av (frigos grandes) até R$ 144 ou 145/@ (frigos pequenos), em SP.
As escalas, já sem o efeito dos feriados, estão entre a quinta 15/jan e a segunda 19/jan, levando a maioria dos frigoríficos ter como “DIA D” a SEGUNDA (19/jan) e o PLACAR médio de 4 dias úteis (entre o dia do acordo da venda e o do abate). O MS já tem a próxima semana mais bem resolvida. Desta forma, o STATUS DO BEEFRADAR vai para:

40% queda (leve) : 45% estabilidade : 15% para alta (leve)

2)      E AQUI, NA TERRA DO PEQUI?
O Estado de GO tem figurado com maior dificuldade que outros na questão do preenchimento das escalas, e este atual momento está alinhado com esta tendência recente. As escalas estão ainda “para dentro da semana” que se inicia (jargão de mercado), entre a próxima quinta/sexta, de modo geral, com preços de R$ 138av x R$ 140ap, com bônus EU de +R$2/@. São pouquíssimos os negócios “personalité” com sobrepreço acima da referência, pois “frigorífico não está com fome para fazer graça” (outro jargão), aliás, panorama geral no mercado.
A média semanal do diferencial de base com SP foi de – R$ 7,20/@, abaixo da média de 2014. Enquanto isto, o deságio da vaca em relação ao macho começa o ano abrindo e já marcando a média semana de –R$ 5,50/@, mostrando que aos poucos, começa a pintar animais acabados via pastagem.
3)      HORA DO QUILOnão tenho nenhuma dúvida que a grande maioria que lê este informe semanal gostaria que o atual Presidente do Brasil fosse outro. Baseio-me nas pesquisas de preferência feitas pelo BeefPoint por ocasião da última eleição. Portanto, não é fácil aceitar que o governo que aí está tenha tomado uma atitude correta.
O artigo do link a seguir aponta nesta direção. Nada de achar que não tenhamos à frente tempos difíceis e que tudo dará certo naturalmente. Mas temos que entender que não importa mais o que a nossa Presidente falou na eleição, mas sim o que passará a ser feito agora, por ela, e sobre tudo, pelos seus Ministros, em especial o da Fazenda. E outro ponto importante ligado a isto: “não há uma linha ética na política, mas uma faixa ética”.
4)      TO BEEF OR NOT TO BEEF: você, voltando das festas e um frigorífico mudou de mão… Não confunda JBS, J&F e JBJ. Entenda quem comprou o Mataboi. E uma coisa nós já sentimos nas redes sociais: uma dicotomia sobre a expectativa dos possíveis efeitos futuros desta “dança de cadeiras” para o produtor.
Uma parte do mercado entende como positiva a mudança, enquanto que outra tem restrições. O tempo nos dirá qual parte está correta. Tomara que sejam os otimistas. Veja o link:http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/junior-jbj-compra-frigorifico-mataboi/
5)      O LADO “B” DO BOI:
5.1. A CONVERSA COM O PORTUGUÊS ADÃO
Nestas “mini-férias”, estive em SP e tive a oportunidade de conversar com o “Adão”, dono de um simples, mas bem sucedido, açougue de bairro no ABC Paulista, que tem como freguesia as classes C, D e E. Ele é um português “POI”, tradicional, daqueles que não abre mão de comprar carne com osso (“traseiro bom tem no mínimo 70kg”) e de ter o caderninho de fiado da freguesia. Da conversa com o Adão, foi interessante:
- notar que ela pesa as bandas recebidas do frigorífico pelo açougue. Conclusão: a relação de peso polêmica com o produtor, o frigorífico também tem com a outra ponta quanto a peso…
- notar que da mesma forma que o pecuarista, tem açougueiro que não quer comercializar com determinados frigoríficos “nem de graça”, ou seja, as preferências comerciais são fortes na “outra banda” também…
- relata 20% de queda na venda de carne bovina devido à arrancada do preço em 2014, volume de produto que ele acha ter sido substituído por suíno, ovo e sobre tudo frango, “como a Dilma falou”…
- notar que ele não vende “nem para o seu pai” nenhum kg de fraldinha, carne que ele destina exclusivamente para a produção dos seus espetos…
- observar que ele acha que a carne “não volta de preço e que em pouco tempo a carne de primeira não sairá por menos de USD 10,00/kg, como é nos EUA e Canadá”…
- ele precifica a sua carne de maneira simples: compra traseiro com osso à R$ 12,20/kg, preço sobre o qual ele adiciona 30% referente à quebra (“limpeza” e osso, que é vendido por R$ 0,10/kg), chegando em R$ 15,86/kg de carne sem osso. Sobre este valor, ele adiciona 50% que é a “margem que não abre mão”, chegando à cerca de R$ 24,00 a R$ 25,00/kg, preço de venda ao seu consumidor da carne de traseiro, em média.
5.2. A VISITA AO FEED
Outra visita à ponta final foi a que fiz ao açougue Feed, em SP, do Pedro Merola. Eu simplesmente recomendo, não dá para explicar. Na sua próxima oportunidade em SP, não deixe de ir, caso aprecie verdadeiramente carne. Veja no link: www.feed.com.br.
Coisa de primeiro mundo, no atendimento, local e sobre tudo na qualidade do produto. Provamos bifes de raquete, de ancho, bife de tira e baby-beef. Prepare-se para se surpreender com o alto consumo de carne pelos seus “clientes de casa”. Uma carne de qualidade tem o seu consumo aumentado em até 50%. E por último, além disto, o preço é honesto.

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5.3. MAIS DO MESMO
Finalizamos dizendo que pouca coisa de novidade apareceu nestes feriados de passagem de ano. A novidade foi a intensidade com que começou o ano de 2015, bem alta. Nos últimos textos tínhamos relatado:
  • Que seria um ano de instabilidade política: o atentado histórico que o terrorismo praticou no órgão da imprensa francesa repercute fortemente do ponto de vista internacional, da mesma forma, que a baixa do Petróleo (já em US$ 47,80), fatos de complexidade grande e enorme influência política internacional. Do ponto de vista interno, as apurações da Operação Lava-Jato aproximam empresas do nosso setor para o foco das investigações, mantendo cenário de turbulência no nosso para-brisa;
  • Que seria um ano de instabilidade econômica: apesar de eu concordar com o Luis Carlos Mendonça de Barros (link acima), no nosso para-brisa também está certo o encontro com o ajuste fiscal e econômico. Nas grandes cidades do ABC Paulista, o ano começa com demissões na indústria automobilística, planos de demissão voluntária e greves, evidenciando queda de cerca de 20% no setor, ocorrida em 2014. Isto é apenas um exemplo. O setor elétrico precisa de ajustes urgentes. Aumentos em contas da ordem de 30% são esperados. Eu nunca vi residências na grande SP com mais de 30h sem energia elétrica. Pois vi agora. Se a coisa está feia até em SP, imagina no resto do País… E a inflação continua… Fechamos 2014 com 6,41%, e advinha quem ganhou destaque, veja: http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/01/09.html
  • Que seria um ano de instabilidade climática: tivemos um dezembro maravilhoso em termos de chuvas. Mas de 26/dez em diante, passamos a experimentar um veranico típico e de intensidade fortíssima. Tem regiões produtoras de soja já com 20d sem chuvas e perdas de 60% nas lavouras. Além da falta de chuva, a quantidade de horas de sol de altíssima intensidade, produz uma temperatura acima da média no País como um todo. Isto está afetando muito a produção de lavouras e capacidade de suporta das pastagens neste mês de janeiro, fundamental para a safra de ambos. Vejam o material. Não entendi muito, mas não gostei do que escutei:http://www.climatempo.com.br/videos/playlist/8/previsao-para-eventos-e-feriados
  • Que seria um ano de reposição firme: o bezerro inicia o ano até mais firme do que imaginávamos, já tendo renovado seu recorde da BMF: R$ 1.252,06/bez (base MS, cerca de R$ 195/@)
  • Que seria um ano de oferta contida: o final do ano confirmou a tendência. Companheiros de produção receberam ligações de compradores de boi no dia 30/dez, solicitando animais para embarque imediato. Não há perspectiva de aumento de oferta em 2015. A oferta está estável, flertando com a queda;
  • Que seria um ano de desafiador para a demanda: tanto internamente, quanto externamente, como está exposto acima, por apenas alguns dos motivadores.
No curto prazo, a semana inicia verdadeiramente o ano, e a indústria deve analisar o consolidado das vendas de carne das últimas semanas com a produção menor que certamente ocorreu. Este balanço deve sair a partir de segunda, mas algo nos sugere que poderemos ter a indústria recompondo estoques com muita ponderação (vendas de jan costumam ser fracas internamente, ainda mais neste ano, com os ajustes de tarifas públicas e impostos do início do ano). Enquanto isto, deve haver uma ligeira melhora de oferta em função de possíveis vendas represadas por parte de pecuaristas até então em viagens de final de ano.
No médio-longo prazo, o cenário para 2015 aponta para uma oferta de gado gordo estável/piorando levemente enquanto que ao mesmo tempo se depara com uma demanda rica de sinais mais consistentes de piora (ou pelo menos de incertezas profundas).
Resta-nos acompanhar a intensidade destes movimentos, e se estes sinais de incerteza na demanda, vão se concretizar. Lembramos que não expusemos ainda o nosso atual mercado (com oferta limitada de animais acabados) a um cenário menos pujante de consumo (aqui e lá fora). De toda a forma, acreditamos em um mercado mais distante de derretimentos de preços profundos, com maior probabilidade de ocorrência, em função dos fundamentos pecuários. Mas, certeza, ninguém tem. Por ora, assim é precificado pela bolsa, pois o contrato de maio está apenas R$ 3,81/@ mais barato que o indicador de hoje.
Nesta história toda, que veremos juntos ser desvendada, esperamos que o ano seja “mais do mesmo” também em relação à margem da atividade pecuária que tivemos em 2014… Tenhamos uma boa viagem… Portas de 2015 em automático…

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