O valor nutritivo da carne de rã já é reconhecido, mas poucos sabem que seu consumo pode minimizar certos tipos de problemas de metabolismo em crianças. Nem mesmo a pele precisa ser descartada. Os pesquisadores já descobriram que, transformada em pó, ela ajuda a diminuir o tempo de cicatrização de queimaduras. Pensando nisso, o pesquisador José Teixeira de Seixas Filho, do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), coordena, com o apoio da FAPERJ, o projeto Melhorias da técnica de criação de rã-touro, que vem estudando formas de baratear os custos de um ranário, para que a carne de rã faça parte do prato de mais brasileiros.
Executado no Laboratório de Pesquisas em Biologia do Curso de Ciências Biológicas e do Mestrado em Desenvolvimento Local da Unisuam, o projeto é desenvolvido em convênio com a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj) e das associações de ranicultores do estado, formando, assim, um moderno conjunto de ações públicas, denominado de Hélice Tríplice.
Para a pesquisa, a escolha recaiu sobre a espécie rã-touro (Rana catesbeiana) devido a seu tamanho avantajado, sua grande adaptação à criação em cativeiro e pela carne altamente nutritiva. "A carne de rã pode ajudar a diminuir mais de 500 erros inatos de metabolismo em seres humanos, como certas alergias a carboidratos", explica Seixas. Seu consumo também fortifica o sistema imunológico, minimizando problemas de desnutrição. "Quando os estudos estiverem bem fundamentados, nosso próximo passo será elaborar uma papinha, destinada a crianças alérgicas e desnutridas. O assunto é tema de projeto de mestrandos da Unisuam, envolvendo alunos da graduação e dos programas de Iniciação Científica do Curso de Ciências Biológicas e da Saúde", conta Seixas.
Conhecendo todas essas características nutritivas da carne de rã, o pesquisador viu a oportunidade de ajudar as crianças das comunidades do entorno da universidade, que sofrem prejuízos no desenvolvimento. "Estamos trabalhando com uma menina de cinco anos que tem alergia a carboidratos. Uma nutricionista orienta a mãe e nós fornecemos a carne. Já estamos observando melhoras", comemora. Na universidade, o pesquisador mantém um ranário, com tanques, onde as rãs ficam separadas por fases de desenvolvimento – de girinos até a idade adulta. São 60 matrizes e um total de 400 rãs, que abatidas, produzem carne suficiente para o desenvolvimento de todos os projetos.
Com sua equipe e com os técnicos da Fiperj, Seixas estuda formas de estimular a produção, diminuindo as altas taxas de mortalidade dos animais nos ranários fluminenses e a oferta irregular da carne de rã. Sua proposta é reduzir o custo operacional nos criadouros com medidas simples, como, por exemplo, a filtragem da água dos tanques de modo a poder ser reutilizada. Como já está em estudo na unidade de pesquisa em ranicultura, instalada na Estação Experimental de Aquicultura Almirante Paulo Moreira da Fiperj, em Guaratiba. "Nosso objetivo é baixar os custos de produção, e só isso levaria a uma economia de 30% do custo operacional, com uma boa redução no preço final. A carne é muito procurada, mas ainda é muito cara", diz Seixas. E acrescenta: "Futuramente, pretendemos reunir todas as informações da pesquisa em cartilhas para orientar os donos dos ranários. Será uma forma de contribuir para orientar os produtores familiares a aumentar a oferta da carne de rã."
Desses estudos, surgiram duas novas linhas de pesquisa. Desde o ano passado, Seixas também analisa a aplicação da pele de rã em queimaduras. A idéia nasceu a partir de seu uso na medicina popular, e agora tem sua eficácia avaliada em laboratório. "Os testes começaram em outubro de 2008, com o pesquisador Januário Mourão, coordenador do Laboratório de Morfologia da Unisuam e já apresentam dados bem significativos", diz Seixas. Para facilitar o uso, os pesquisadores decidiram transformar essa pele em pó. A pesquisa ainda está em fase de observação com ratos, que têm DNA semelhante ao do ser humano. "Com os experimentos, já podemos dizer que a cicatrização acontece bem mais rápido do que no tratamento convencional. Além disso, encontramos um emprego para a pele de rã, que, de outra forma, termina sendo descartada de forma inadequada no meio ambiente" , acrescenta o professor Januário.
O outro estudo resultante do trabalho de Seixas está sendo desenvolvido por sua mestranda em Desenvolvimento Local e coordenadora do curso de Estética e Cosmetologia da universidade, Simone Blanco. Ela vê a possibilidade de usar a pele do anfíbio para criar uma nova alternativa de tratamento facial. "Vimos que ela também pode auxiliar no tratamento da acne, problema de grande incidência entre nós, sobretudo entre a população jovem. Motivo para que a pesquisa de métodos para sua cura e controle seja um processo em constante renovação e busca de melhores resultados pela indústria cosmética", diz Simone.
Segundo a pesquisadora, dados da literatura reportam que algumas bactérias, como os estafilococus, são responsáveis por grande quantidade de infecções cutâneas. Substâncias com propriedades antimicrobianas mostram-se úteis para o tratamento de acnes, seborréias e furúnculos. "Observamos que a pele de rã-touro apresenta nove peptídeos, denominados ranatuerinas, com atividade antimicrobiana. Agora, estamos avaliando, em ratos da espécie wister, o efeito de composições farmacêuticas preparadas a partir do extrato bruto aquoso dessa pele sobre a bactéria causadora dos abscessos da acne. Esperamos elaborar uma substância que apresente baixo custo e possa ser utilizada no tratamento", conclui.
Fonte: Rosilene Ricardo - FAPERJ
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