Quando pensamos em produção de leite eficiente e rentável, o que se passa na cabeça de um produtor? Leite! Muito leite, como sinônimo de rentabilidade. Correto! Essa abordagem é verdadeira? Direcionar esforços somente para aumento do volume produzido é, de fato, o caminho para o sucesso? A busca por boas médias de produção individual, no caso de sistemas confinados ou elevadas taxas de lotação em sistemas a pasto são indicadores importantes de eficiência produtiva. No entanto, a produção de leite eficiente para ser alcançada depende de uma avaliação global e conjunto de medidas. Ninguém é eficiente em produção de leite só porque alimenta bem seus animais, só oferece bom conforto ou qualquer outra prática favorável ao bem estar animal. Para alcançarmos o máximo, em termos de produtividade, é necessário inserir a vaca dentro do sistema de produção proposto e direcionarmos nossos esforços para garantirmos: boa nutrição, bom manejo alimentar e bom conforto, promovendo um consumo efetivo e retorno ao investimento. Tão importante quando a tríade: nutrição-manejo-conforto são os cuidados direcionados para a produção de leite com qualidade. Infelizmente e, de forma errada, muitos produtores encaram a qualidade do leite como um esforço “secundário” dentro na atividade sem perceber que produzir leite de qualidade não é uma necessidade para “atendermos demanda da indústria e lacticínios”, mas sim a forma mais inteligente e eficiente de explorarmos a glândula mamária das nossas vacas. Uma vaca sadia, com baixos índi! ces de contagem de células somáticas (CCS/ml) implica numa “fábrica” em pleno funcionamento e rendimento para ser viável economicamente.
Devemos entender duas situações distintas: a qualidade do leite em termos de saúde animal e qualidade do leite em termos de saúde humana (consumo). Quando abordamos a saúde das nossas vacas devemos pensar em baixa contagem de células somáticas (CCS/ml) como meta. Quando pensamos em leite de qualidade para consumo humano devemos direcionar esforços para uma baixa contagem bacteriana total (UFC/ml). Esta reflete as condições de higiene das instalações, ordenha e existência (ou não) de boas condições de armazenamento e refrigeração porteira adentro.
A prerrogativa, de muitos produtores, da ausência de investimentos e maiores esforços em se produzir um leite de qualidade é a falta de programas de pagamento por qualidade, falta de remuneração adicional por litro satisfatória ou mesmo a dificuldade de obtenção de índices prepostos. "Ah, estes índices são muito difíceis de serem alcançados.” é uma frase que escutamos muito. Esta abordagem está correta? Em termos. Existem bons programas de remuneração por qualidade, enquanto que outros não são tão bons, de fato. Todavia, associar qualidade do leite aos incentivos no pagamento por litro, como estímulo, e receita para o sucesso é uma abordagem muito errada! Devemos trabalhar a questão da qualidade do leite sempre, pois toda vaca eficiente produz leite de qualidade! Não existe uma vaca rentável com índices negativos em termos de CCS/ml, por exemplo. A tabela abaixo ilustra nosso raciocínio:
Tabela.1 - Perdas estimadas (%) causadas por mastite
Fonte: Adaptado de Philpot e Nickerson, 1991, citado por Fonseca & Santos, 2000.
Logo é preciso, compreender que uma CCS entre 340 a 500 mil CCS/ml, por exemplo, afeta a capacidade produtiva da glândula mamária entre 8 a 18% (de acordo com os dados acima), ou seja, praticamente 20% da sua produção diária, se arredondarmos valores. Em outras palavras, seria o mesmo afirmar que uma vaca com 400 mil CCS/ml não é um problema para a fazenda de leite... Não é?! Vejamos. Este número pode representar uma perda média de cerca de 15% da produção diária de uma vaca! (Ou rebanho se esta for a média do tanque). Pode não ser um problema para a IN 62, que determina CCS mínima de 500 mil/ml, mas para o bolso do produtor pode ser bastante significativo, sim! Tomando como exemplo, um rebanho com média de 25 L/vaca/dia, com aumento nos índices de CCS e níveis que impliquem na redução de produtividade nessa magnitude (15%), essa média cairia para cerca de 21 litros (redução de 4 litros/vaca/dia). Considerando um rebanho de 100 vacas em produção, e um preço recebido de R$1,10/L, seriam 400 litros de leite a menos por dia, R$440,00 ou R$13.200,00 a menos por mês. Nessa análise, não estamos levando em consideração o adicional por qualidade que o produtor poderia receber se conseguisse trabalhar com bons índices (o que está deixando de receber). Vejamos a simulação, abaixo:
Tabela.2 – Índices comparativos hipotéticos de qualidade do leite:
A Tabela.2 compara duas propriedades com produções iguais, mas com médias de produção diferentes, afetadas pela CCS média do rebanho. Partindo do pressuposto de que os sistemas de produção são muito semelhantes em termos de potencial de produção e custos, é possível verificar o impacto significativo da pior qualidade do leite em termos produtivos e preço final recebido. Consideramos a mesma linha de raciocínio da Tabela.1, ou seja, queda de 15% na produção média individual por conta de uma maior CCS (365 mil x 550 mil CCS/ml). Todos os números são fictícios embasados em estudos, mas servem como referência para simularmos o impacto da CCS em rebanhos. Vale lembrar que, em situação de custos semelhantes, dentre os quais destacamos o custo de alimentação, os efeitos de uma pior qualidade do leite são significativos.
Em nosso trabalho de consultoria, procuramos estabelecer índices de referência para diferentes setores da propriedade. Em termos de manejo da alimentação e nutrição, atentamos muito para a receita menos custo de alimentação (RMCA), o qual sofre impacto direto do DEL médio avaliado. A Fazenda A depois de pagar seu custo de alimentação trabalha com caixa de R$25.534,00 para pagar suas despesas mensais, enquanto que a Fazenda B dispõe de R$21.150,00.
Analisando o programa de remuneração por qualidade da indústria de laticínios do exemplo, é importante que o produtor tenha consciência de como cada item avaliado pode impactar na composição do preço final recebido. Vale lembrar que alguns indicadores são mais fáceis de serem melhorados do que outros. Para a maioria dos programas é importante que o produtor tenha como meta, no mínimo, índices de excelência em termos de CBT, uma vez que esse atributo depende somente do produtor e capacitação da mão-de-obra, sem envolver animais (exceção para casos de rebanhos com alta infecção por Streptococcus agalactiae ou Streptococcus uberis, que podem causar aumento de CBT no tanque, sendo assunto para outro artigo).
O controle e redução da CCS:
Muitos produtores e técnicos realizam abordagem incorreta sobre o assunto. O controle de CCS de um rebanho está, intrinsecamente, correlacionado com capacitação da mão-de-obra da propriedade e implantação de controles e processos adequados. Entretanto, o foco é direcionado e distorcido por muitos para a questão da “eficiência” e “eficácia” de tratamentos e uso de medicamentos. Antes de iniciarmos qualquer tratamento de mastite num rebanho, é necessário realizar um DIAGNÓSTICO correto da situação do rebanho e este implica no levantamento do que chamamos de “Status Microbiológico”. Neste levantamento apontamos quais são os agentes infecciosos presentes e de que forma (percentual) estão distribuídos no rebanho. Para esse levantamento existe uma metodologia de coleta e análises que deve ser cumprida, sendo que somente uma simples análise não nos leva à conclusão de, absolutamente, nada. A COWTECH trabalha em parceria com os maiores laboratórios do segmento no Brasil, discutindo e participando ativamente na forma e metodologia de diagnóstico e análises realizadas. Uma vez definido quais são os agentes (patógenos) causadores do problema de alta CCS no rebanho, nosso trabalho é direcionado para a principal medida e forma de controle e redução de CCS que é a LINHA DE ORDENHA. A resistência por parte de produtores e de alguns gestores de rebanho (infelizmente) em implantar a rotina de LINHA DE ORDENHA é bem comum. A nossa experiência aponta o motivo dessa resistência a um fator muito simples que é o trabalho! Sim. Implantar uma linha de ordenha e mantê-la como rotina, numa fazenda dá t! rabalho, sim! Todavia, se queremos excelência e profissionalismo, não há outra forma de atuação. Uma LINHA DE ORDENHA de sucesso implica em:
a-) rotina
b-) trabalho árduo
c-) identificação correta
d-) apartações constantes
e-) controle eficiente
Nem todas as propriedades estão, de fato, aptas a implantarem um programa de controle da qualidade do leite. A COWTECH aplica nestes casos, como rotina, o que chamamos de PROGRAMA DE CONTROLE E MELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE, que se trata de uma metodologia de trabalho abrangente. Antes de qualquer medida, avaliamos se um sistema de produção com problemas pode ou está pronto para trabalhar a questão da qualidade. Nosso trabalho engloba:
a-) Levantamento e diagnóstico do manejo e rotina de ordenha
b-) Capacitação e treinamento da mão-de-obra
c-) Diagnóstico (análise e interpretação de resultados)
d-) Plano de Ação
e-) Execução (acompanhamento das atividades na propriedade)
f-) Conclusão (análise e interpretação de resultados)
De um modo geral, quando nos deparamos com problemas de mastite, existem duas grandes “aflições” semelhantes, mas conceitualmente, conflitantes: a do produtor que quer tratar logo suas vacas para reduzir sua CCS e as empresas de medicamentos querem pôr à prova toda a tecnologia e inovações de sua linha de produtos. Essa “aflição por tratar” é um tanto quanto perigosa por ser, extremamente, ineficiente. Quando abordamos e discutimos qualidade do leite com produtores, somos constantemente indagados sobre qual “protocolo de tratamento” usar ou qual seria o melhor medicamento (mais eficiente) para resolver seu problema? Essa abordagem é errada. Não existem protocolos bons ou ruins. O que existem são princípios ativos usados incorretamente e produtos (medicamentos) menos eficientes do que outros para determinadas circunstâncias, assim como existem os indicados e corretos. Logo, ao analisarmos o “status microbiológico”, recomendamos a realização de antibiograma para termos um parâmetro inicial do que pode funcionar ou não numa propriedade.
Antes de tratar:
Antes de tratarmos qualquer animal é necessário termos certeza de que o medicamento e protocolo utilizado é o mais adequado (antibiograma) e termos certeza de que a rotina de ordenha da fazenda (teste de caneca, pré-dipping, secagem de tetos, colocação de teteiras, etc.) está correta e a m. de obra capacitada para tal. Posteriormente é necessário que os animais sejam apartados e identificados em grupo de:
a-) animais sadios
b-) vacas recém-paridas
c-) animais infectados por Streptococcus agalactiae
d-) animais infectados por Staphylococcus aureus
Para que uma LINHA DE ORDENHA seja estabelecida com sucesso, é necessário que os funcionários sejam treinados e capacitados de modo que entendam o princípio dessa linha e a importância da manutenção da mesma. A COWTECH atua incisivamente em programas de treinamento de funcionários em fazendas para a realização dessa tarefa. Implantar uma LINHA DE ORDENHA no papel é muito simples. Na prática a conversa costuma ser outra e cada manejo e sistema tem suas particularidades. Por mais “absurdo” que seja, é possível reduzirmos a CCS de um rebanho sem realizar, sequer, um tratamento. Nossa preocupação inicial é a eliminação da ordenha (secagem), quando possível de animais infectados em final de lactação e, eventualmente, com alta CCS. Posteriormente, nosso cuidado é direcionado para o controle da infecção, impedindo que a mesma se alastre no rebanho. Sem a LINHA DE ORDENHA estabelecida e, em funcionamento, de nada adianta “sairmos tratando” animais, sem critério algum. Inúmeros são os casos de insucesso em programas de controle da qualidade do leite pela ausência de linha de ordenha ou pela falta de treinamento de equipes para trabalharem dessa forma. Em outras palavras, os funcionários precisam estar conscientes e “afinados”. É necessário eleger um responsável ou responsáveis pela apartação e controle dos animais, no momento da ordenha. Uma vez estabelecida a linha ela é eterna. É mantida durante o tratamento e erradicação de agentes infecciosos e se mantém com protocolos de controle na rotina de fazendas. Toda vaca recém-partida deve ter seu leite analisado e este animal so! mente se mistura ao lote de animais sadios após liberação por diagnóstico laboratorial. Esse conjunto de processos pode parecer ser complicado. De fato, requer cuidados, mas é a única maneira de trabalharmos com índices de referência.
Iniciamos nosso programa de tratamento, somente quando temos certeza de que uma equipe está pronta para execução de um programa. Este tem sido o diferencial e razão de sucesso dos programas de controle realizados pela COWTECH. Após os primeiros tratamentos (depois de controle microbiológico), realizamos exames e controles adicionais como levantamento individual de CCS, para maior detalhamento e tomadas de decisão pontuais, sendo esta análise mais uma medida de controle de rotina nas propriedades que trabalhamos (relatórios gerenciais: excelentes se interpretados; absolutamente inúteis se não interpretados).
O controle da qualidade do leite é um processo dinâmico, com muitos detalhes para serem levantados e controlados. O uso de medicamentos eficientes é apenas uma etapa do processo. Infelizmente o foco é direcionado para a eficácia destes. Os protocolos de tratamento são importantes, mas exercem papel coadjuvante num programa de controle de mastite e qualidade do leite. Ao produtor e técnicos, cabe a obrigação de escolher boas empresas e laboratórios (fabricantes de medicamentos), mas é importante ficar claro que a responsabilidade sobre o correto uso dos mesmos recai sobre o produtor e profissional responsável pela implantação do programa de qualidade. Infelizmente, determinados produtos e empresas são comumente rotulados como ineficientes ou “caros” quando a realidade é bastante distinta. Caro não é o medicamento, mas sim a ausência de um “processo” ou controle eficiente, como a LINHA DE ORDENHA. Em nosso trabalho no campo, direcionamos 90% dos nossos esforços para que chamamos de: “controle de processos”, dentre os quais o ator-principal chama-se: EQUIPE DE TRABALHO. Ao capacitarmos uma equipe, tudo é possível e os resultados positivos sempre são alcançados. Em alguns casos mais rápidos. Outros mais lentos.
Para concluirmos nosso artigo, vamos colocar aqui uma questão muito comum quando nos deparamos com problemas de qualidade do leite: “Quais são os índices de referência para uma boa qualidade do leite em termos de CCS e CBT?” Em alguns casos a pergunta chega dessa forma: “É possível enquadrarmos nossa propriedade que está com índices tão ruins na IN62?”. A resposta, para todos os casos e sem exceção é: não só é possível enquadrarmos dentro da IN62 como é possível obtermos índices muito melhores! A razão dessa certeza não é a normativa, mas sim a necessidade de sermos profissionais e trabalharmos com sistemas rentáveis. Alguns ainda relutam e colocam um “Será?!”. A resposta é dada com outra pergunta: “Por que será que os sistemas mais rentáveis de produção de leite do país apresentam índices de referência em qualidade do leite?!"
FONTE RURALBAN.COM
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