sexta-feira, 15 de julho de 2011

Produção de Suínos ao Ar Livre: Alternativa para os Produtores Orgânicos

A suinocultura desempenha papel estratégico na alimentação humana. Não é por acaso que a carne de porco é a mais consumida no mundo. Segundo ROPPA (1999) ela representa 44% do consumo global, contra 29% da bovina e 23% da carne de aves. No Brasil, o quadro muda, bovinos garantem 52% do mercado, aves atendem 34% da demanda e suínos 15%. A China, maior produtora mundial (36,9 milhões de toneladas/ano) é também campeã folgada em consumo. Os EUA detêm a segunda maior produção (8,2 milhões de toneladas/ano) e o Brasil ocupa o oitavo posto no ranking, com 1,6 milhão de toneladas/ano.
A demanda por carne suína orgânica na maioria dos países da União Européia é superior a oferta, entretanto a produção orgânica de porcos enfrenta dois tipos de problemas: falta de matéria prima e dificuldades para cumprir todas as normas exigidas pela produção orgânica. Na Holanda, o governo fixou um objetivo ambicioso de multiplicar por 20 a produção orgânica de suínos dentro de 5 anos. O fator limitante para atender a este objetivo não é a falta de alimentação de origem orgânica, mas a pouca superfície necessária para distribuir os dejetos animais.
A falta de tratamento adequada à grande quantidade de dejetos produzidos, é justamente um dos graves problemas que a intensificação da produção de suínos trouxe para o meio ambiente e à própria sociedade. Segundo a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) a poluição do meio ambiente na região produtora de suínos é alta, pois enquanto para o esgoto doméstico, o DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) é de cerca de 200 mg/litro, o DBO dos dejetos suínos oscila entre 30.000 e 52.000 mg/litro, ou seja, em torno de 260 vezes superior.
No ritmo em que a questão ambiental ganha força neste novo século e o consumidor passa a ser exigente e disposto a pagar mais por um produto ecologicamente correto, algumas formas de criação de animais como o confinamento em sistemas convencionais intensivos deverão ser substituídas por alternativas que privilegiem o bem-estar animal como a criação ao ar livre em sistemas orgânicos.
Sendo a suinocultura uma atividade prioritariamente realizada em pequenas e médias propriedades familiares, este artigo procura mostrar que em sistemas orgânicos a criação ao ar livre pode ser uma alternativa economicamente mais rentável, tecnicamente mais adequada e ambientalmente correta quando comparada ao sistema de confinamento convencional.

Nos últimos 15 anos os suinocultores têm observado uma redução significativa nas margens de lucro, em função dos altos custos de investimentos em edificações e equipamentos para o sistema de criação de suínos confinados. Após anos de aposta unilateral em genética e nutrição, o conforto e bem-estar animal foram negligenciados. A fronteira entre a intensificação e o maltrato dilui-se perigosamente, até se transformar numa fonte de prejuízos relevantes, na medida em que se estreitam as margens do negócio.
Uma das alternativas que tem surgido e que se adapta muito bem à produção orgânica é o sistema de criação de suínos ao ar livre, desenvolvido inicialmente na França, onde ficou conhecido como sistema "plein air" e que vem sendo pesquisado e adaptado às condições do Brasil pelo Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves da EMBRAPA e pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
No sistema "plein air" os animais são mantidos em piquetes vegetados, nas fases de reprodução, maternidade e creche, cercados com fios e/ou telas de arame eletrificadas com corrente alternada. No interior dos piquetes são colocadas cabanas móveis com estruturas de madeira cobertas com chapas galvanizadas do tipo "iglu". Normalmente, os animais permanecem neste sistema até atingirem 25 a 30 quilos de peso vivo e após são vendidos para terminadores.
Um estudo realizado por COSTA et. al. (1995a; 1995b) comparando o sistema de criação ao ar livre (SISCAL) com o sistema confinado (SISCON), mostrou que o sistema de criação ao ar livre apresentou-se tecnicamente viável, pois o peso médio dos leitões ao desmame (10,46; 8,78 kg) e o número de leitões desmamados/parto (9,22; 8,47) foram maiores no sistema ao ar livre do que no sistema confinado. De acordo com os autores as condições do meio ambiente sanitário, do alojamento das matrizes e dos leitões contribuíram para o melhor desempenho do sistema ao ar livre.
A tabela 1, resume os resultados econômicos do estudo dos pesquisadores da EMBRAPA Suínos e Aves, e mostra que o custo de implantação do sistema ao ar livre representou cerca de 44% do custo do sistema confinado. Para se ter uma idéia o custo total por quilo de suíno produzido ao desmame (~10,0 Kg) foi aproximadamente 33% menor no sistema ao ar livre. Enquanto ao ar livre o sistema teve uma rentabilidade anual de aproximadamente U$ 2067,00, no sistema confinado a rentabilidade variou de U$ 342,00 a U$ 469.

Tabela 1 - indicadores econômicos para sistemas de criação de suínos ao ar livre (Siscal) e confinado (siscon)
ITENS
SISCAL (U$)
SISCON (U$)
custos fixos médios (/Kg)
0.120
0.325
custo variável médio (/Kg)
0.964
1.320
custo total médio (/Kg)
1.103
1.645
custo total das instalações
4990,83
11160,15
custo por matriz alojada
311,93
697,51
lucratividade anual
2067,00
342,00 – 469,00
Fonte: COSTA el. al. (1995a)
Os dados da tabela 1 evidenciam que no sistema ao ar livre os resultados econômicos foram melhores devido aos menores custos fixos e variáveis, além de melhores índices técnicos como maior número de leitões desmamados/porca/ano e maior peso médio dos leitões à desmama. É interessante observar que neste estudo as condições do meio ambiente, sanitárias e de alojamento proporcionaram melhores produções, uma vez que não houve diferença no material genético utilizado e na qualidade da alimentação.
Comparando diferenças genéticas e ambientais, vale lembrar que o maior produtor mundial – a China – investe mais na diversificação genética e bem-estar dos animais do que na especialização genética em sistemas de confinamento, como é a tendência no Brasil. Segundo ROPPA (1999) mais de 80% da suinocultura chinesa são de pequenas granjas de origem familiar, com uma média de dez matrizes por criador. O segredo do sucesso está no número de raças nativas utilizadas, mais de 40 espécies, fato que vem exatamente de encontro aos princípios da agricultura orgânica.
Cabe destacar que o produtor que optar pelo sistema orgânico é desejável que produza pelo menos 40% do alimento (ou o equivalente em matéria seca) na propriedade. As rações não podem conter aditivos químicos, sendo recomendado complementação com produtos de época tais como: rolão de milho, abóbora, batata doce, cama de frango, mandioca integral, raspa de mandioca, caldo-de-cana, sorgo de baixo tanino, soro de leite, farelo de arroz integral entre outros, permitindo além das características normais de qualidade da carne, garantir um produto o mais natural possível. As matérias primas orgânicas destinadas para a alimentação dos porcos devem ser isentas de radiações ionizantes ou organismos geneticamente modificados. Para resolver o problema com parasitas e plantas invasoras, o produtor deve estabelecer um programa de rotação de culturas adaptado e escolher espécies apropriadas. O controle de doenças é baseado na prevenção. O uso de medicamentos alopáticos são proibidos e autorizados somente com prescrição veterinária. Os animais devem estar soltos, ter acesso ao sol e repousar em palha seca.
Em síntese, podemos dizer que o sistema de criação ao ar livre pode ser uma boa opção para os criadores que queiram ingressar na atividade da suinocultura orgânica ou para os que desejam integrar e diversificar sua propriedade. Como vimos, o sistema de criação ao ar livre pode oferecer facilidades aos criadores, em função do baixo custo de implantação e manutenção, número reduzido de edificações, facilidade de implantação do sistema, mobilidade das instalações, bom desempenho técnico e, sobretudo, por promover condições de conforto e bem-estar aos animais. Lembre-se, o bem-estar dos animais também engorda a rentabilidade!

Fonte: 
http://www.planetaorganico.com.br/trabdsuino.htm

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