Modelos bioeconômicos têm sido muito utilizados para determinar a máxima remuneração operacional para gado de corte. Esse recurso permite a comparação de diferentes cenários, envolvendo tipos genéticos, manejos nutricionais, custos diretos e oportunidades de mercado (compra, venda, programas de valorização de carnes especiais, etc.), destinados basicamente a um sistema de criação intensivo (recria/terminação em confinamento), devido ao controle total das variáveis.
No Brasil, o confinamento é uma ferramenta cada vez mais utilizada na pecuária bovina. Tratase de uma ferramenta, já que não é um fim por si só, e sim parte de uma estratégia cuja finalidade é maximizar o resultado financeiro da propriedade rural em três pontos muito importantes:
-Livrar as pastagens na estação seca de animais mais pesados (engorda) em favorecimento dos mais leves (recria).
-Possibilitar a remuneração da venda em momento mais favorável (melhores preços).
-Aproveitar ao máximo a carcaça em engorda (peso de abate).
Do ponto de vista da estratégia de compra e venda de animais, ao tomarmos a recente reconstrução do país em sua fase pós-inflação (1994 até os dias atuais), vemos claramente que a possibilidade de melhores negócios na venda de boi gordo concentra-se depois do mês de junho, e a compra de bezerros até o referido mês. Este cenário cria, sob a perspectiva de um sistema de produção, duas oportunidades muitos específicas: uma estação de compra e uma estação de venda.
A figura 1 mostra a sobra de valores (R$) considerando o momento de compra/venda sobre o preço médio anual do boi gordo e bezerro. Se uma determinada propriedade comercializasse mil animais/ano e adotasse a estratégia sugerida acima, muito provavelmente agregaria a seu resultado um total de R$ 840.000,00 ao longo de 14 anos, em comparação a outra propriedade que estivesse comercializando seus animais sem uma estratégia definida. Isso, se considerarmos os valores médios, sem contar, portanto, as melhores oportunidades em momentos mais do que oportunos (fig. 2).
Avaliando a oportunidade em relação ao peso final de engorda, não resta dúvida da importância da genética na quantificação desse valor. Pardi et al. (1996), citado por Pineda N. R., mostrou que em 70 anos o peso da carcaça de 7,4 milhões de zebuínos abatidos em um único frigorífico (Anglo, Barretos – SP) passou de 234,5 Kg/carcaça para 268,6 Kg/ carcaça, ou seja, um incremento de 26,9 Kg/carcaça. Ganho Isso é fruto da substituição de raças (aumento da população de nelore em relação ao gir no rebanho zebuíno), aumento do uso de touros provados e busca de cruzamentos industriais.
Entretanto, temos uma oportunidade única no que diz respeito à genética para obtermos melhorias na nutrição e sanidade, em que a etapa final de engorda sob sistema confinado (controle total das variáveis) permite uma pergunta muito importante: vendemos bois ou carcaças? Obviamente vendemos o animal, mas somos remunerados pelo peso de sua carcaça.
O peso da carcaça estará intimamente relacionado ao peso maduro funcional, e este, por sua vez, ao nível de gordura da carcaça, que comercialmente fica em torno de 25% a 27% de gordura corporal (equivalente a gordura uniforme). Ou seja, ao atingirmos a gordura uniforme no abate, estaremos, de certa forma, representando o máximo acúmulo de carcaça, considerando o sistema nacional de classificação (fotos 1 e 2).
Uma segunda pergunta que nos ocorre é o custo do ganho, o raciocínio de que animais com maior acabamento são mais caros de se produzir é correto, entretanto o incremento do rendimento de carcaça representa um ganho financeiro que não deve ser esquecido (figura 3). De um lado, teremos piores conversões alimentares (custo) e, de outro lado, melhores rendimentos (receita).
Deve-se considerar o valor da diária nutricional e valor de venda do boi gordo, permitindo, assim, a correta determinação do peso do abate através do retorno financeiro final, e não somente através do custo mínimo de produção (fig. 4).
Sob o prisma técnico, a premissa básica é um maior conhecimento dos animais a serem trabalhados, principalmente no que se refere à questão de peso maduro e relação proteína-gordura no momento do abate.
Para gado de corte, fisiologicamente, o peso maduro pode ser considerado como ponto máximo de acúmulo de massa muscular, desconsiderando o acúmulo de gordura que pode ocorrer depois disso. Aceita-se, em geral, que o crescimento muscular é praticamente nulo após o acúmulo de 34% a 37% de gordura corporal, portanto, a definição de peso maduro passa a ser o peso em que o animal atinge de 34% a 37% de gordura corporal.
A relação entre estrutura corporal (frame size) e peso maduro é praticamente direta, porém dependente do nível de musculosidade. A compreensão do peso maduro é importante na determinação do plano nutricional a fim de explorar todo potencial produtivo de uma raça ou mesmo manipular as taxas de crescimento com o objetivo de postergar ou antecipar a fase de acabamento (figura 05).
Comercialmente a terminação do peso maduro, ou seja, 34% a 37% de gordura, é realizada somente em mercados altamente especializados, principalmente naqueles que buscam gordura intramuscular (marmoreio) e nos quais existe remuneração para esse tipo de produção.
Comercialmente, em nosso sistema de classificação, busca-se a produção de um animal de gordura de cobertura moderada a uniforme, o que corresponde a um animal com percentual de gordura em torno de 26% (fig. 6), ponto em que a demanda energética para terminação não implica grande perda econômica e possibilita atingir um maior peso de abate, melhorando, assim, o rendimento da carcaça. No sistema norte-americano seria o equivalente ao tipo select e low choice.
Freitas et. al. (2006), trabalhando na determinação da composição corporal e exigência de manutenção de nelore e seus mestiços (não castrados) em confinamento, com dietas que variaram de 30% a 70% de concentrado, e peso de abate variando entre 480 Kg e 510 Kg (100% a 110% do peso materno), não encontrou diferença significativa entre os grupos genéticos. Assim, adotamos uma única equação para a determinação da composição corporal de proteína e gordura corporal (fig. 7), em que o peso corporal vazio foi obtido pela aplicação do fator 0,891 sugerido pelo NRC, 1996.
Com base na estrutura corporal e categoria animal, é possível, de acordo com o mesmo objetivo final (composição da carcaça), estabelecer um programa nutricional correto, bem como apartação para abates programados (tabela 1), definindo, assim, um sistema de produção que vise maximizar o resultado financeiro, tendo como base o animal, o mercado e seu custo de produção.
Em resumo:
Busque um sistema de produção voltado à maximização de resultados financeiros.
O momento da venda é a melhor oportunidade. FOCO e OBJETIVO. Entenda o mercado.
Venda CARCAÇA! Procure conhecê-la melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário