Texto de Miguel Cavalcanti para BeefPoint
Bom dia, tudo bem com você?
Me fizeram essa pergunta alguns dias atrás... :-)
Fui fazer uma palestra em Foz do Iguaçu, PR, num seminário de altíssimo nível, organizado pela COBB, empresa líder mundial em genética avícola de corte. Era o encontro que acontece a cada dois anos, com os principais clientes e parceiros da empresa.
Gente de todo o Brasil, e também do exterior. Donos e executivos de empresas de ponta na área de aves de corte. E como de costume, muita gente também tinha gado de corte como um segundo negócio... Gente que diversifica seus investimentos com pecuária de corte. Ou seja, minha palestra era interessante para o público por dois motivos: entender uma proteína concorrente e também para melhorar o negócio secundário de muitos dos presentes.
No jantar, após a palestra, muita gente veio conversar comigo, e aproveitei para aprender mais sobre esse mercado, que é muito importante. O consumo de frango cresce no mundo de forma mais forte que a carne bovina - por conta de preço.
Conversando com um proprietário de uma empresa de produtora de frangos de corte, e que também tinha gado de corte, ele me perguntou, com uma cara de brincadeira: Você sabia que uma galinha produz mais carne que uma vaca?
Eu olhei com uma cara de curioso, sorri, e perguntei:
Como assim? :-)
Ele me respondeu: uma galinha coloca 150 ovos por ano, e cada ovo desse vai produzir um frango de 3kg. Ou seja, uma galinha vai produzir em apenas um ano, 450kg... Coisa que uma vaca não vai conseguir, lembrando que a gestação é de 9 meses... Fiquei encucado com aquela conversa...
Nesse mesmo evento, pude assistir palestras e conversas sobre genética de aves. Impressionante como estão avançados, impressionante as métricas, os avanços anuais e como conversam sobre genética. Em nenhum momento falaram sobre um determinado animal, determinada raça, etc.
Falavam sobre características genéticas de real interesse econômico, de medidas que realmente influenciavam o negócio. Produção de carne, conversão, mortalidade, tudo de uma forma muito aplicada a produção final, a última linha, que é o resultado financeiro.
Na viagem de volta, fiquei lembrando dessas duas coisas: que uma galinha pode produzir mais carne que uma vaca, e que a genética de aves está mais "profissionalizda", no sentido de falarem 100% do tempo sobre variáveis que vão trazer real valor econômico para o negócio.
Eu fiquei impressionado... E fiquei preocupado com a carne bovina no médio-longo prazo... Se somos menos eficientes para produzir proteína animal, e além disso estamos andando mais devagar que eles, e ainda, estamos "gastando" nosso tempo tratando de temas "acessórios" a produção de carne, a tendência é que nossa competitividade comparada se reduza com o tempo...
E aí, o que vamos fazer?
É claro que eu acredito no potencial da carne bovina. É claro que eu acredito no futuro da carne bovina.
Carne é um produto "centro de prato", é a primeira opção, é a carne da celebração. É a carne da festa, do churrasco, do jantar romântico. É escolhido, é comprado porque é mais saborosa, não porque é a mais barata (há muitos e muitos anos que a carne bovina é mais cara que o frango).
Outro ponto, que foi destacado há alguns anos pelo Leonardo Alencar, um dos analistas de mercado que eu mais respeito: no Brasil, ainda existe um enorme gap de produtividade, podemos aumentar muito a eficiência do setor e com isso ter custos ainda mais competitivos, como setor. Uma observação que não se aplica a todos os países produtores de boi gordo, mas que se aplica muito ao Brasil.
Mas fica aqui nosso dever de casa, de focar no que realmente importa, em medidas que realmente tragam resultados econômicos. E que possamos gastar menos tempo discutindo qual a melhor raça, e mais tempo trabalhando para tornar a pecuária mais competitiva, e mais eficiente em relação a outras proteínas de origem animal. Esses são nossos reais concorrentes.
Vamos nessa?
Muito obrigado.
Um forte abraço, Miguel
FONTE: Miguel Cavalcanti - BeefPoint [mailto:newsletter=beefpoint.com.br@mail68.us4.mcsv.net] Em nome de Miguel Cavalcanti - BeefPoint - TEXTO ENVIADO POR E-MAIL