sábado, 10 de dezembro de 2011

Nova identificação de abelhas dispensa taxonomistas

A identificação e classificação de abelhas atualmente no Brasil é complexa e sobrecarrega os taxonomistas que têm ficar identificando as espécies coletadas pela pesquisa ao invés de se dedicarem a descrever e analisar novas espécies. As técnicas utilizadas hoje em dia são complexas, exigem o manuseio de reagentes e laboratórios muito especializados, o que torna o processo caro e demorado. Para acelerar a identificação das abelhas analisadas e fazer com que o trabalho fique mais acessível, a USP (Universidade de São Paulo) está desenvolvendo três ferramentas que dispensam reagentes e uma delas pode até ser utilizada pelos próprios produtores.

A ferramenta mais simples é a que identifica as abelhas baseado nas características presentes nas asas delas. A técnica consiste em tirar uma foto da asa e analisar os padrões de distribuição das veias que compõem as asas. Para isso, é necessário um computador com o software que seria baixado da internet e uma lupa com câmera digital acoplada. Segundo o pesquisador Tiago Mauricio Francoy, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, esta ferramenta consegue identificar a espécie em apenas 4 minutos, com uma eficácia de 95% dos casos testados. Ele diz que ainda vai levar mais três anos para aprimorar a tecnologia para que ela tenha uma eficácia de 100% e seja disponibilizada na internet para ser usada por quem se interessar.
— Quando a gente trabalha com a identificação de abelhas a gente encontra um problema, que é um pouco sério, porque existe um número muito pequeno de especialistas em identificação de abelhas. Estamos propondo três novas ferramentas diferentes, trabalhando com a ciência da computação e reconhecimento de padronagem de imagens. Estas ferramentas prestam um serviço muito interessante que é o de abrir o acesso ao grande público e tirar o peso das costas dos taxonomistas. O produtor e até o leigo que se interessa pela apicultura teria somente que tirar uma foto da asa da abelha e carregar a foto no site. Lá haveriam informações e ele mesmo poderia fazer a análise porque o software diria para ele qual é a espécie que ele está analisando. Este é o sonho final. É uma linha de pesquisa recente, mas que está crescendo. Acredito que dentro de pouco tempo a gente vai ter capacidade para mapear espécies em todas as regiões do Brasil — espera Francoy.
Para os casos em que a tecnologia de fotografia das asas ainda não é eficaz, os pesquisadores estão desenvolvendo a técnica de sequenciamento de DNA, em que eles trabalham com o código de barras do DNA, sequenciando um gene específico e depois comparando a sequência analisada. Essa ferramenta é mais eficaz do que a técnica das asas, mas é mais elaborada e cara porque precisa de uma equipe especializada, equipamentos diferenciados e um laboratório de biologia molecular. Mesmo assim, a vantagem é que ela não precisa ser manipulada por taxonomistas. Francoy é um dos palestrantes do 10º Congresso Iberolatino-americano de apicultura, que acontece em Natal, no Rio Grande do Norte, de 11 a 14 de outubro. No evento, ele vai mostrar também uma terceira tecnologia que ainda está sendo analisada pelos pesquisadores brasileiros, mas já demonstra sucesso em outros países.
— A gente também está experimentando agora uma técnica bem recente que é a comparação dos perfis das substâncias que ficam impregnadas no corpo das abelhas, os chamados hidrocarbonetos cuticulares. Comparativamente, em estudos com formigas de 80 espécies diferentes os pesquisadores acertaram 100% da identificação de todos os indivíduos. Temos ainda poucos trabalhos feitos com abelha com esta tecnologia, apenas dois ou três, mas estamos animados com os resultados preliminares e no próximo ano vamos continuar a fazer estas análises com esta nova ferramenta — comemora o pesquisador.

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