O processo de retomada da ovinocultura no Estado ganhou mais um aliado com a proposta de criação do programa de Desenvolvimento da ovinocultura do Rio Grande do Sul, que deve ser lançado em breve pelo governo do Estado. Entre os benefícios do projeto está a implantação de uma linha de crédito especial para retenção de matrizes e de um fundo que atuaria como equalizador dos juros e garantidor dos pagamentos.
"Trata-se de uma excelente alternativa, especialmente se forem incluídas as fêmeas até seis meses e também os reprodutores", disse o criador David Martins, da Cabanha Novo São João, de Santana do Livramento.
Nos últimos meses, com a valorização da carne ovina e com a falta de cordeiros nas propriedades, houve um crescimento exagerado no abate de matrizes, prejudicando o processo de expansão do rebanho. Para se ter uma ideia, em março de 2010 o preço do quilo vivo do cordeiro era de R$ 2,20 e hoje o mesmo chega a valer R$ 5,00. O secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, explicou que a ideia é criar uma linha de financiamento que será implantada junto ao sistema bancário estadual.
O criador da Estância São José, Claudino Loro, disse que a carne de cordeiro é hoje um produto de luxo e aposta que o novo programa pode trazer um incremento expressivo na criação. "Temos uma defasagem na lotação de ovinos frente a um mercado promissor. Pelo plano do governo, deve ser estabelecida uma cota por ovelha e o produtor recebe de acordo com o número de animais que ele retém e pelo prazo que for dado o financiamento", explicou Loro.
O aquecimento do mercado se deve à maior divulgação e valorização da qualidade da carne de cordeiro, o que levou ao aumento do número de consumidores pelo apelo gastronômico da carne. "O produto é cada vez mais bem elaborado pelos restaurantes, com cortes especiais, facilitando também o uso na cozinha doméstica", disse Martins. O criador lembra que 20 anos após o período áureo da ovinocultura gaúcha, quando o Estado chegou a concentrar mais de 15 milhões cabeças voltadas principalmente para a lã, o rebanho foi dizimado e se reduziu para 4 milhões de cabeças. No Brasil, o rebanho chega a 15 milhões de animais, mas seriam necessários 60 milhões para atender à demanda interna. "O Brasil é hoje um importador de carne ovina de diversos países como Austrália, Uruguai, Argentina e Chile. O que precisamos é quadruplicar o rebanho nacional para mudar esse quadro", afirmou. Além da qualidade da carne, a ovelha tem a vantagem de ser de fácil manejo e muito resistente a períodos de seca. "Os animais têm a vantagem fisiológica de poder passar dias sem beber água", complementou o criador.
Loro lembrou que espaço nos abatedouros não falta para receber os animais. "Estive com o secretário da Agricultora de Santa Catarina e lá tem um frigorífico parado por falta de animais." O pecuarista Adroaldo Pötter, da agropecuária Caty, também concordou com as vantagens que o programa do governo pode trazer, mas fez uma ressalva. "Acho um ótimo programa, mas que só gerará frutos a médio prazo. Precisamos de algo mais urgente e para isso o interessante seria a importação de ventres."
A proposta do secretário Mainardi contempla também medidas duras de fiscalização e de combate ao abigeato. O Rio Grande do Sul abateu, no ano passado, cerca de um milhão de cabeças, mas apenas 277 mil nos frigoríficos. O restante ocorreu clandestinamente.
Fonte: Jornal do Comércio
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